YOURS, NÔ | Um Aniversário em Casa

   Completei dezanove anos há quase duas semanas e queria mesmo registar o acontecimento, espero que não volte a acontecer mas aquilo que estamos a viver é história plena e há que registar, seja bom, seja mau, para futuramente o recordar-mos. Adoro e sempre adorei o meu aniversário, planeio tudo com antecedência e estava até a pensar numa viagem ou numa escapadinha, no entanto, como tudo este ano, as nossas voltas foram trocadas.

   Percebi desde o início da pandemia que não ia ter o meu aniversário normal, com as minhas pessoas preferidas à volta de uma mesa na minha garagem a comer a melhor comida do mundo e a rir às gargalhadas, como veio a ser tradição. Não houve grandes celebrações, apesar de estarmos em desconfinamento não quis rodear-me de mais pessoas do que a minha família nuclear, não me fazia sentido, nunca fez. Escolhi um aniversário pequenino pois considero supérfluo, inconsequente e inconsciente fazer algo maior nesta altura, há que ter cuidado, por nós e pelos nossos. A minha mãe fez as melhores refeições de sempre, fez o meu bolo - um red velvet de comer e chorar por mais - e as fatias de felicidade foram repartidas por todos os pratos gulosos, apesar de tudo, pedi para não me cantarem os parabéns, nunca gostei e este ano fiz cumprir o meu desejo. 

   Não houve grandes fotografias, presentes nem sequer um outfit planeado e estrondoso, não me sentia com energia para mais do que pijama. E foi quando fiquei sozinha que me bateu, que comecei  a entristecer e a perceber que a celebração da nossa vida, da nossa saúde, das nossas conquistas não faz sentido sem a maioria das nossas pessoas. E foi por essa  altura - enquanto contava as horas para o dia acabar - que recebi um link para uma video-chamada surpresa onde encontrei todas estas pessoas que me faziam falta naquele momento, com um vídeo preparado de felicitação que me pôs em lágrimas e a questionar-me como é que mereço estas pessoas bonitas e luminosas. Dos espectros mais afastados da minha vida, apareceram de todo o lado um pouco, para me felicitar, para agradecer para me abraçar com palavras tão bonitas. E foi emocionante ver o carinho, a dedicação e o amor transposto num ecrã. Nunca lhes conseguirei agradecer suficientemente este presente tão bom e tão carinhoso, tão nosso! Acabei de ver o vídeo de olhos encharcados e de coração quentinho e vieram transformar um dia tão monótono e cinzento em algo tão quentinho, brilhante, estupendo. E eu nunca serei suficientemente grata por este gesto.

   Tenho pessoas verdadeiramente extraordinárias na minha vida, e não é só por estas surpresas. Desde que entrámos em junho que queria saltar o dia doze, e ver o dia a chegar e zero planos afligiu-me, no entanto revelou-se diferente mas repleto de carinho e de abraços à distância. Tive ainda a oportunidade de oferecer bolo num tupperware à Gabi que veio tocar à minha porta, simplesmente amor! Fiz dezanove anos em casa, sem Santo António, sem brindes, sem os meus amigos, porém com a minha família que fez de tudo para não ser só mais um dia comum e celebrarmos a minha existência, a minha vida, a minha saúde. Por agora restam os presentes de aniversário que vão chegando aos poucos pelo correio, amarrotados mas embrulhados em carinho, os quais digo sempre que não são necessários, porém agradeço o gesto, e resta também o coração quentinho. Apesar de ter tudo para ser só mais um dia, triste, chato, monótono, conseguiram transformá-lo em algo tão bonito e marcar a data com um abraço longínquo, porém apertado. Sinto-me muito grata por ter tamanhas pessoas especiais na minha vida, por tamanho amor e carinho. Obrigada, do fundo do coração, por fazerem parte do meu caminho.