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MUNDO | Uma Guerra de Comunicação

        Acho fascinante - no seio de um assunto que é tudo menos fascinante - como na área que estudo usamos de forma sistemática a realidade que nos abraça enquanto caso de reflexão, especialmente porque é impossível não comunicar e porque esta disciplina é fulcral na existência humana. Um professor meu de Comunicação Institucional chamou-nos à atenção para algo que não me tinha passado pela cabeça: para além de uma guerra bélica entre a Rússia e a Ucrânia, esta é também uma guerra de Comunicação. Para além das armas e dos tanques, há coisas bem valiosas: a imprensa, a opinião pública, as massas.

        A Rússia é poderosíssima a nível de armamento e treino militar, ninguém tem dúvidas, mas Zelensky tem-nos revelado uma excelente dose de carisma, de dom da palavra e da imagem, instrumentalizando a opinião pública a seu favor e do seu povo, verdade seja dita, todo o Ocidente apoia o povo ucraniano e condena esta invasão. Dizia-me o meu professor que há quem ganhe ofensivas, mas há quem ganhe os corações e a empatia dos seres humanos, e é isso que fica para a História. É a comunicação de crise e a comunicação institucional a trabalhar ao seu mais alto nível e é absolutamente brutal de analisar. 

        Também nós, do lado ucraniano, somos alvo de propaganda - enquanto ferramenta persuasiva que influencia os espíritos. Convido-vos a analisar de forma mais séria os discursos, publicações nas redes sociais, formas de vestir. Tudo isto vai moldando a opinião pública e gerando juízos de valor. Temos de ser críticos com tudo aquilo que consumimos. Não estou a dizer que estamos do lado mau da história - desse lado está quem usufrui da catástrofe, da dor e do sofrimento - estou a dizer que é engenhoso e calculado aquilo que nos é transmitido. Vou vos dar um exemplo, na terceira ronda de negociações (vejam a imagem aqui), os russos sentavam-se à mesa de fato e gravata, aprumados e polidos, enquanto que os negociadores ucranianos não destoavam do verde-militar, do rosto cansado e do aspecto frágil.  São imagens que falam, jogadas silenciosas mas inteligentes e que mexem com o espaço público. É genial como os ucranianos têm instrumentalizado e ocupado o debate na esfera pública em seu favor. Louvo-lhes isso mas também a coragem e resiliência. O governo russo bem que têm tentado combater nesta trincheira, fracassando junto do Ocidente.

       Sei bem que esta vertente do conflito parece bem fútil quando há comida racionada, violação de direitos humanos, e as atrocidades que vemos nos meios de comunicação a toda a hora, no entanto esta guerra comunicacional é extremamente importante na transmissão de uma imagem para o exterior, na mobilização estrangeira e na diplomacia. Sem mais espaço para reflexões comunicacionais, é um privilégio o mais próximo que estamos  serem reflexões pessoais e ações de voluntariado para ajudar o povo ucraniano na fuga e atenuação deste conflito. As oportunidades para ajudar são inúmeras e não custa procurar, da minha parte conheço e participei da triagem e embalamento de bens na Câmara Municipal de Lisboa (das 9 às 19h todos os dias). Sejamos críticos e reflexivos, procuremos a verdade e sejamos sensíveis à injustiça.

1 comentário:

Obrigada por leres!

 
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