O podcast Reset, da Mariana Cabral, que não celebra prémios e feitos mas que conta as histórias de fracasso, colocou-me em retrospetiva face à minha vida e vivências. Acredito que há muitas coisas na vida que não vêm por bem e que me é impossível ver o lado solarengo da coisa, e estou especialmente a falar de situações limite e situações graves e traumáticas, porém, acredito que todos os restantes obstáculos na minha vida - os meus fracassos, perdas e desilusões - foram sempre rampa de lançamento para algo maior e melhor. Fizeram parte do caminho e este amadurecimento é importante, também.
Acredito que, em muitas das situações da vida somos mandados a baixo que nem edifícios pelas mais diversas situações mas que é, sobre esse escombros, que nos reerguemos. Diferentes, mais fortes, prontos para ir contra o nosso eu do passado. Pelo menos é assim que interpreto e acredito que os meus maiores falhanços e fracassos da vida me tornaram quem sou hoje e, embora na altura não tenha compreendido e me tenha perguntado uma dezena de vezes "porquê eu?", hoje acredito que ainda bem que foi assim, teve o seu propósito, mesmo que na altura não tenha percebido.
Um exemplo breve, sempre fui boa aluna desde miúda e sempre apanhei tudo com facilidade, safava-me com pinta e distinção em tudo. Porém, quando mudei de escola para o terceiro ciclo, foi um choque enorme e descambei em negativas como nunca tinha visto na vida. Foram testes, foi na pauta. Foi um fracasso pessoal tão grande, o estar em vias de chumbar, o ficar de castigo e o estar deveras desiludida comigo mesma. E foi aí, por volta dos treze anos, que comecei a estudar a sério. E esse foi o único ano que não fui distinguida como aluna de mérito. Há quem aprenda a estudar no secundário, nos exames, na faculdade, ou nunca até. Eu aprendi e fi-lo regularmente desde de novinha por esta razão, o receio de voltar àquele poço imundo. Por muitas lágrimas que tenha custado, foi esse afinco criado de raíz que me fez estar onde estou hoje e não poderia estar mais grata por esta chapada de luva branca.
É por isso que cada vez olho mais para os baixos da vida unicamente com a subida como forma de escapar. E são os fracassos e as feridas que nos erguem, que nos constroem de forma mais íntegra e madura. E é bonito como tudo se conecta, a forma como tudo um dia faz sentido, como quando vi um projeto que amava muito morrer e tudo o que resultou daí me ter feito conhecer o Daniel, há quase quatro ano atrás. Afinal de contas, somos todos um bocadinho das paredes que sobre nós ruíram e que sobre nós se reconstruíram, mais fortes, mais plenas e cada vez mais prontas para o abanão seguinte. Somos os nosso fracassos e sinto-me tão grata por falhar tanto e por compreender a beleza disso. Há coisas que não compreendo agora mas que um dia fará sentido na minha jornada, tal como aquelas negativas no sétimo ano.
Um texto com sentido e significado, concordo contigo em tudo o que foi dito! Também compreendo que os meus fracassos e momentos menos bons fizeram de mim o que sou hoje!
ResponderEliminarSublinho a frase " Somos os nosso fracassos e sinto-me tão grata por falhar tanto e por compreender a beleza disso." Fantástico! Fantástica!
Beijinhos
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