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DIA-A-DIA | Tirar a Carta de Condução

    Ontem, tirei a carta de condução. Nem acredito que estou a escrever isto. Foi uma jornada longa e dura mas finalmente conclui esta etapa de aprendizagem primária para avançar e aprender de uma forma um tanto mais autónoma. Foi uma odisseia, uma dor de cabeça e demorei um ano e dois meses a fazer tudo, mas comecemos pelo início, pois claro.

    Aos dezoito anos a minha avó ofereceu-me a inscrição na escola de condução, era algo que já queria há imenso tempo e, assim que passaram os exames nacionais e a minha viagem à Áustria e à Madeira, decidi finalmente inscrever-me. Precisava imenso de ter esta autonomia e foi isso que mais me puxou, deixar de depender de boleias, ter de acordar os meus pais para me levarem a reuniões, depender de transportes para fazer tudo o que era extra. Sentia-me um fardo de ter de se levada a todo o lado, sobretudo aos fins de semana e à noite, quando são escassos os transportes. Os treinos, os escuteiros, os aniversários. Foi esta a minha principal motivação.

    Comecei com toda a garra e toda a pica, queria era despachar-me mas embati em imensas adversidades que não dependiam de mim. Marquei exame de código em outubro do ano passado, fiz as aulas todas num mês e meio, e... só fiz exame de código em janeiro. Filas de espera, marcarem para datas impossíveis para mim - imaginem fazer um exame de código, que requer algum trabalho, na pior semana do semestre.. nunca na vida. Mas o que importa é que em janeiro fiz o exame de código, esforcei-me muito pois sabia que o conhecimento teórico era a minha praia - sempre foi - e passei com zero questões erradas. Metade estava feito, porém sabia que o mais complexo estava por vir.

    Pouco depois comecei as aulas de condução - sim, sei que agora se pode começar a condução a meio do código, porém preferi encerrar uma pequenina etapa para começar outra - e não foi fácil. Nunca tinha pegado num carro na vida e tudo aquilo que eu sentia era medo puro e dizerem me "mas tens medo de quê? não há nada que ter medo" só me frustrava ainda mais. Tinha tantas dificuldades no início que fiz cinco aula SÓ de volante, sem pedais nem mudanças e eu não conheço ninguém que tenha feito mais que duas. Entretanto meteu-se a quarentena, quase três meses sem conduzir e, em maio, retomei as aulas, novamente. Quando terminei as trinta e duas aulas obrigatórias, pedi para fazer mais até ao exame para me ajudar a ganhar ainda mais confiança e ir treinando. Fui a exame em julho e chumbei. Estava absurdamente nervosa, sabia que estava absolutamente fora da minha zona de conforto, tinha muito pouca segurança nas minhas manobras, estava ultra cansada e sabia que qualquer coisinha mínima podia ser motivo de chumbo. 

    Chorei dias e dias a fio, já tinha sido confrontada com o falhanço mas nunca com algo assim. Foi muito duro olhar-me ao espelho e pensar que deitei tudo a perder por uma pequena falta de atenção. Para mim, pior do que isso era a humilhação que sentia - e que ninguém me fez, era algo pessoal - e o não ser capaz de conquistar aquilo para que trabalhava. Voltei ao zero e voltei a tentar, como tinha de ser. Demorei dois meses a ter coragem de voltar a entrar na escola de condução e pior, demorei dois meses a mentalizar-me que teria de abrir a carteira, novamente.

    Fiz as restantes aulas, marquei mais algumas - ao todo fiz mais de cinquenta.. -, treinei em sítios desertos com familiares e, ontem, fui a exame de condução novamente e passei. Ainda não percebi como, tremia por todo o lado e já trazia algumas más recordações e más histórias de trás, mas ficou feito e eu não quero pensar mais no assunto, nunca mais quero voltar ao centro de exames nem à escola de condução. Só consegui acreditar quando vi o papel assinado. A condução foi o motivo que mais me fragilizou emocionalmente ao longo deste último ano e estou radiante de saber que já acabou. Ainda tenho imenso para aprender - muito mesmo - mas ao menos estou livre daquele monstro que me assombrou e daquele medo persistente do exame e de chumbar novamente. Há dias em que adoro conduzir e me relaxa, há outros em que tudo o que há dentro de mim é medo e hesitação. Acho que a maior falha neste processo todo foi mesmo a falta de acompanhamento emocional durante as aulas. Sou uma pessoa muito pouco racional de pensamento, tenho muito medo de falhar e houve críticas que não me soaram tão bem. Foi muito duro de aguentar, para além disso, toda agente era sempre bastante fria e antipática, de instrutores a examinadores, passando por funcionários.

    Hoje, digo à Leonor de Julho que ainda bem que chumbou, porque não estava preparada. Hoje, mesmo com os meus receios e hesitações, sinto mais alguma segurança e confiança. O caminho ainda é longo e eu quero muito aprender mais e tornar-me autónoma, porém o maior objetivo - além de conduzir em segurança e sem grandes percalços - é nunca mais pôr os pés numa escola de condução. Foi uma autêntica tortura ao nível emocional mas finalmente chegou ao fim, agora posso aprender com as pessoas em quem mais confio. Está feito, mesmo tendo desembolsado o dobro do previsto no início, e eu não podia estar mais radiante, incrédula e aliviada. O maior objetivo - e também o mais complexo - de 2020 foi, assim, concluído com sucesso.

3 comentários:

  1. Miitos parabéns, apesar dos percalços o importante e que conseguiste.

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  2. Miil parabéns!!! Já o tinha dito mas digo mais uma vez! Acompanhei tudo assim como tu acompanhas-te o meu longo caminho...pessoalmente estou a ter mais dificuldades agora do que quando estava em aulas mas, tal como tu, vou aprender e percorrer o meu caminho <3

    Blog: https://blogandorinhaazul.blogspot.com/

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  3. Parabéns querida Leonor. Sabes, também chumbei no primeiro exame de condução e senti-me um bocadinho como tu, mas lá está, as coisas acontecem por algum motivo e é porque ainda não estávamos de todo preparadas. No segundo também estava extremamente nervosa, ainda mais que no primeiro, mas olha, lá passei.
    Que continues a concretizar os teus sonhos <3

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Obrigada por leres!

 
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